quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Raça humana não tem cor"


A propósito da questão do realojamento de 12 famílias em fogos que a Câmara Municipal da Amadora adquiriu no Concelho de Sintra já muito foi dito - em minha opinião, quase sempre numa clara linha de exploração demagógica e populista do assunto. Na última Assembleia Municipal de Sintra, realizada no passado dia 24 de Junho, tive, igualmente, a oportunidade de efectuar intervenção sobre este tema, procurando transmitir aquela que é a posição oficial do Partido Socialista em Sintra, após discussão nos órgãos próprios.

Sejamos claros: qualquer política de realojamento que não procure, acima de tudo, a integração plena dos indivíduos em sociedade, com deveres a cumprir mas também com igualdade de direitos, não fará qualquer sentido. Aliás, numa Europa onde as fronteiras foram há muito abolidas para os cidadãos que dela fazem parte, parece até absurda (e, considerando algumas declarações proferidas, até com traços de óbvia xenofobia) esta “polémica” que se pretendeu construir em redor do realojamento destas famílias.

Vamos aos factos:

- a CMA deliberou e aprovou a aquisição de 19 fogos para proceder ao realojamento de algumas famílias abrangidas pelo Programa Especial de Realojamento (PER);

- estas famílias residiam no traçado da CRIL. Tratam-se de famílias devidamente estruturadas e que, em vez de ficarem à espera de realojamento através do arrendamento, decidiram avançar com a compra de habitação, contando para isso com o apoio da Administração Central, através do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), da CMA e das Estradas de Portugal;

- estas famílias estão a ser devidamente acompanhadas pelos técnicos da CMA e, ao contrário do que alguns andaram por aí a dizer, ninguém “sacudiu” ou “empurrou” qualquer responsabilidade para Sintra;

- segundo informação da CMA foi preocupação dos diversos serviços envolvidos que, prioritariamente, se encontrassem fogos no Concelho da Amadora ou em áreas limítrofes. Os valores de aquisição deveriam enquadrar-se nos valores estabelecidos em termos legais e tratar-se de fogos prontos a habitar e que não necessitassem de obras;

- dos 19 fogos adquiridos, 12 situam-se no Concelho de Sintra, com ampla dispersão por várias freguesias.

Estes são os factos, de forma sucinta. Devemos acrescentar que esta informação esteve sempre disponível para quem, efectivamente, estivesse mais interessado em esclarecer o assunto do que optar pela sua exploração sensacionalista ou pela “politiquice” sem sentido.

Importa, ainda, referir que há cerca de 10 anos também foram realojadas, na Urbanização da Coopalme, no Algueirão, 40 famílias indicadas pela CMA, conjuntamente com famílias de Sintra. Acrescente-se que a CMA, ao fim de todo este tempo, ainda mantém um Gabinete de Atendimento no Bairro da Coopalme, para atendimento semanal às famílias que vieram da Amadora.

Efectivamente, ao invés de se criticar o trabalho bem feito dos outros e de se agitarem “fantasmas” junto da opinião pública, deveriam alguns autarcas do nosso Concelho preocupar-se mais com aquilo que seria sua obrigação fazer em Sintra e que, pelos vistos, não sabem ou não conseguem fazer. Talvez dessa forma os cerca de 600 alunos de Sintra (muitos deles também oriundos de famílias de fracos recursos e necessitando de apoio social) que frequentam, por exemplo, a EB 2+3 Francisco Manuel de Melo, na Amadora, pudessem ter escola em Sintra e não necessitassem de recorrer ao Concelho do lado para esse efeito!...

O verdadeiro dado relevante desta questão diz respeito, antes de mais, à desvalorização do nosso Concelho, fruto destes recentes anos de más políticas, que afastaram as classes médias para Concelhos vizinhos e conduziram o nosso património para patamares inferiores. Hoje em dia, efectivamente, é mais barato comprar casa nas zonas urbanas de Sintra do que na Amadora, Oeiras, Odivelas ou Cascais. Nos índices de qualidade de vida, aqueles municípios têm vindo a ultrapassar Sintra, ano após ano. Porque Sintra continua a ter maus acessos a Lisboa, escassez de alternativas de transportes para fora ou no interior do Concelho, falta gritante de infra-estruturas de lazer, de apoio na Saúde, Educação, etc. Porque Sintra (sobretudo nestes mandatos da Coligação Mais Sintra - PSD/PP ) parou no tempo, nada se faz, nada se renova, tudo se degrada, desde as zonas urbanas até ao próprio Centro Histórico!...

Que fique bem claro: sou de opinião que é obrigação dos políticos contribuírem para o esclarecimento das situações e evitarem o fermentar de ódios, de animosidades ou de sementes de intolerância. Como dizia um verso de uma canção - "raça humana não tem cor". As pessoas, todas as pessoas, sejam elas de Sintra, da Amadora ou de Angola, e desde que respeitem as normas e leis em vigor, devem ser tratadas como tal, com compreensão pelas suas dificuldades, anseios de integração e opções de vida. Não há fronteiras quando se trata de contribuir para a dignidade humana. Estes são os princípios que o Partido Socialista defende, sempre defendeu e certamente continuará a defender, ainda que seja um combate por vezes árduo, sobretudo porque o populismo gratuito tem sempre mais facilidade em exibir-se nas parangonas de jornais ávidos de "guerras" e de "sangue", seja à custa de quem for ou do que for!

A CM Amadora agiu bem, dentro de toda a legalidade e está a acompanhar a situação. Trata-se de uma situação pontual e claramente enquadrada. Pretender "assustar" os munícipes de Sintra com as 2300 famílias ainda por realojar na Amadora (como se fosse sequer exequível replicar, nem que fosse apenas em termos de custos, a compra de 2300 andares noutro município!) é fazer demagogia fácil e sem qualquer fundamento!

Resta à CM Sintra preocupar-se, acima de tudo, com a qualificação do nosso território para atrair mais investimento, trazer de volta as classes médias, construir as escolas, equipamentos desportivos, parques, estradas, ciclovias, centros de Saúde, etc, que tanta falta fazem e saber, acima de tudo, integrar em vez de estigmatizar.

Infelizmente, disso estamos certos, não será com esta Maioria de Direita que tal se transformará numa realidade, dada a sua mais do que demonstrada incapacidade para gerir um Município como Sintra!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mostra supersónica!...


O Presidente da República esteve hoje de manhã em Sintra num denominado "roteiro da Juventude" ou algo do género. No largo fronteiro ao Palácio da Vila ergueram-se 21 barraquinhas brancas, numa iniciativa chamada " Mostra de Empreendedorismo Jovem do Concelho de Sintra", creio que com a intenção de mostrar a Cavaco Silva a capacidade de iniciativa de jovens empresários do Concelho.

Interessado, procurei no site da CMS mais informação sobre este evento, nomeadamente horário de funcionamento da "Mostra" nos próximos dias - nada encontrei...

Algumas horas depois falei com um amigo sobre o assunto. Sorriu e garantiu-me que as tais barraquinhas já nem lá estavam montadas - parece que a "iniciativa" durou apenas o tempo da passagem do Sr.Presidente da República e...zás, vamos embora que o "show" terminou!...

Simplesmente...inacreditável!...

Egocentrismo


"Não exibas tanto o esplendor dos teus dentes. Eu sei que são postiços. Mas há quem não sabe, dizes. Pois. Mas ainda que eu não soubesse, sabia-lo tu. Fecha a boca."


Vergílio Ferreira

sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago - II


Segundo informação dos órgãos de Comunicação Social de hoje, o Presidente da República (que se encontra de férias) não estará presente no funeral, amanhã, de José Saramago.

Todos nós sabemos aquilo que separa Cavaco Silva de José Saramago. Mas um Presidente da República, enquanto representante máximo da Pátria, tem que saber estar acima de divergências politicas ou ideológicas nestas circunstâncias.

Não apenas porque José Saramago será sempre uma referência nacional quando já muita gente nem sequer souber quem foi Cavaco Silva. Nem pelo Prémio Nobel da Literatura (único até ao momento na nossa História). Mas porque, no mínimo, fica mal ao Presidente da República não ser capaz de interromper as férias num momento destes, evidenciando aparente ressentimento ou insensibilidade.

José Saramago

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Um tema (infelizmente) actual


Na definição do dicionário Houaiss, xenofobia é a "desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de fora do país; xenofobismo", isto é, uma das mais trágicas manifestações da ignorância e do medo humano perante o que desconhece, com uma leitura da realidade baseada em preconceitos.

Normalmente, o conceito de xenofobia relaciona-se com a aversão ou perseguição a pessoas de outras etnias, religiões ou minorias específicas, mas pode incluir apenas as pessoas do "bairro / território" ao lado, sobretudo se forem pobres, necessitarem de apoio ou houver um sentimento de insegurança (real ou fictícia) associado.

A xenofobia aparece onde menos esperamos e (infelizmente) é por vezes o suporte de alguns discursos populistas e demagógicos, quase sempre travestidos de piedosas intenções ou repetidas juras de "respeito" pelas pessoas. A exploração fácil dos "medos sociais", ilustrada aqui ou acolá com alguns "mitos urbanos", surge muitas vezes associada ao discurso de alguns políticos procurando protagonismo fácil ou angariação de votos a qualquer custo.

É um tema actual e talvez regressemos a ele um destes dias.

domingo, 13 de junho de 2010

Ainda a saga do RRM...


Em Rio de Mouro parece que a nova aposta da Junta de Freguesia, em termos desportivos, vai para uma recém criada equipa de BTT (ciclismo todo o terreno). Com efeito, espaço para a sua prática parece não faltar, já que em vez do eternamente prometido parque urbano entre Rio de Mouro e o Cacém restam caminhos de cabras, calhaus, terra batida e (ainda) alguns eucaliptos...

Quanto ao campo de jogos do RRM (Rio de Mouro, Richoa e Mercês) lá continua transformado num imenso vazio, numa zona de entrada principal na Freguesia, na sequência de um negócio de contrapartidas para a construção, naquele local, de um posto de combustíveis e alargamento dos acessos ao IC19. Realmente os acessos e posto de combustíveis foram feitos - o prometido campo de futebol relvado e sede do clube é que parecem ter caído no esquecimento... Da Junta de Freguesia de Rio de Mouro e Câmara Municipal de Sintra apenas um absoluto silêncio público sobre o assunto e uma aparente incapacidade de definir, preto no branco, afinal o que vai acontecer àquele espaço e ao clube, depois das promessas e projectos que agora ninguém vê, nem relativamente aos quais não se conhece qualquer planificação ou calendarização.

Assim sendo, bem pode a Junta de Freguesia de Rio de Mouro aproveitar também este espaço onde já esteve o campo de jogos do RRM para pista de treino ou até mesmo realização de provas de BTT, pelo menos durante o Verão. Já de Inverno, como o espaço fica cheio de poças de água da chuva, talvez se possa aproveitar para combates na lama...

Como diz o Povo - quem não tem cão...caça com gato!...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Combater o pessimismo


O INE reviu hoje em alta o crescimento da economia portuguesa no primeiro trimestre do ano, com o PIB a crescer 1,8 por cento comparativamente ao trimestre homólogo e de 1,1 por cento face ao quarto trimestre de 2009.

A evolução positiva baseou-se num aumento da procura interna, do consumo privado e das exportações.

São boas notícias num tempo conturbado e difícil - e demonstram que não devemos deixar-nos asfixiar pelo pessimismo militante de uns quantos, apesar do combate travado por este Governo ser complexo e árduo.

sábado, 5 de junho de 2010

Atenção!...


Título do Expresso de hoje:


"Passos quer liberalizar despedimentos e contratações".


Acrescenta-se que a proposta do PSD está quase pronta e foi desvendada pelo líder laranja em encontro com empresários. É para valer até 2013, mas pode manter-se depois da crise...


A reboque da crise parece que há quem queira aproveitar (como sempre...) para fragilizar até ao impossível as relações e vínculos de trabalho. Gerado o ambiente de "medo", de "incerteza", mais fácil se tornará "mandar" em vez de gerir e despedir facilmente quem se torne "incómodo"... E ainda têm a lata de se dizer preocupados com o...desemprego!... Vê-se!...

Não tarda e Passos Coelho lá voltará a defender a privatização da Caixa Geral de Depósitos, essa autêntica "jóia da Coroa" e Instituição bancária de referência.

Para quem acha que PS e PSD são "iguais", aqui fica a recomendação para que estejam atentos aos "sinais" e às "garras" que começam a romper as finas luvas de seda com que têm andado camufladas...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Desorientação?...


Com um ar sereníssimo, dois jornalistas económicos debitam o seu discurso no jornal da noite da SIC Notícias. O tema óbvio: a crise. Ouço falar numa desejada entrada do FMI e ambos aplaudem porque "a ditadura" que virá impôr será útil para "endireitar tudo", assumirá "o rasto de destruição" necessário, cortará salários (!) certamente, etc, etc, etc. Não ouço UMA única palavra de preocupação com as PESSOAS, com os cidadãos deste País, uma única palavra de esperança, nada. Contarão, certamente, como "vítimas colaterais", que se lixem! - primeiro estão as "contas em dia", desde que o "rasto de destruição" apenas se abata sobre salários, sobre quem trabalha, sobre quem já tem dificuldades, sobre quem NADA contribuiu para este estado de coisas! No final não haverá Economia e o empobrecimento será uma realidade - mas estará feito o "trabalho sujo" dos contabilistas do Reino! Digam-me lá em que parte do "programa" é que isto estava quando nos anunciavam a Comunidade Europeia como uma comunidade solidária e próspera para os seus integrantes e tantos sacrifícios fizémos para lá conseguir entrar! Não me lembro...

Sou socialista, sempre fui socialista - espero que as PESSOAS continuem, apesar de todas as dificuldades, a estar no centro das preocupações de qualquer governação do Partido Socialista. Essa é matéria que não se negoceia com ninguém!


P.S. - Num momento em que o País deve dar uma imagem para o exterior (sobretudo para o bando de abutres que procuram especular com as dificuldades da nossa economia) de coesão em torno de um conjunto de medidas económicas difíceis que foram articuladas entre o PS e o PSD, eis que surge o jovem líder (?) laranja a escancarar a porta ao "bando de piratas" que nos mantém sob observação, afirmando que será eventualmente necessário recorrer ao Fundo de Emergência Europeu... É quase como dizer que a casa não está a arder mas cheira imenso a queimado, o calor é insuportável e é urgente ter um extintor à mão... Se esta é atitude de "estadista" vou ali e já venho!...