sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

"Faz o que digo, não o que faço..."

Veio na Comunicação Social: Manuela Ferreira Leite declarou como rendimentos, em 2008, 82.988,88 euros como administradora não executiva no Banco Santander de Negócios; 31.245 euros de trabalho independente; e 114.600,28 euros de pensões acumuladas (!) pelas suas passagens pelo Governo, Parlamento e Banco de Portugal.

Isto é - Manuela Ferreira Leite ganhou mais, apenas em pensões acumuladas, do que José Sócrates pela sua actividade enquanto 1º Ministro!...

Obviamente que não está em causa a legalidade desta situação e certamente MFL terá todo o direito a receber todo este dinheiro de pensões acumuladas. Mais: não será a única a estar nesta situação e certamente existirão outros políticos, de outros partidos, em idênticas circunstâncias.

O que aqui está em causa é outra coisa. É o espírito da velha e centenária República, aquela que defende como valores centrais a liberdade, igualdade e fraternidade, como exemplarmente evocava ontem, em sessão do PS em Queluz, com a presença de Francisco Assis, o meu amigo e camarada Miguel Portelinha. O que aqui está em causa é a capacidade de alguns defenderem para os outros sempre mais sacrifícios e mais rigor, sendo que normalmente esses "outros" são usualmente anónimos funcionários públicos que dão o melhor de si e ganham o salário mínimo e ainda são considerados "privilegiados". O que aqui está em causa é muito mais do que a simples constatação de um facto ou de um direito legalmente adquirido - e está na hora de muita gente que anda na política há anos a fio e que conduziu o País para a situação em que estamos, entender que o ruído já é ensurdecedor.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Verdade e aparência


"Quem só é homem de bem porque os outros o ficarão a saber e porque o estimarão mais depois de o ficarem a saber, quem só quer agir bem na condição da sua virtude chegar ao conhecimento dos homens não é homem de quem possamos obter grandes serviços. (...) Não é para alarde que a nossa alma deve desempenhar o seu papel; é dentro de nós, no íntimo, aonde outros olhos não chegam excepto os nossos: ali ela nos protege do temor da morte, das dores e mesmo da desonra; tranquiliza-nos contra a perda dos nossos filhos, dos nossos amigos e das nossas fortunas, e, quando a ocasião se apresenta, também nos conduz para os acasos da guerra. Não por algum proveito, mas pela honra da própria virtude (Cícero). Esse proveito é muito maior e muito mais digno de ser desejado e esperado do que as honras e a glória, que são apenas um julgamento favorável que fazem de nós."


Montaigne, "Ensaios"

sábado, 23 de janeiro de 2010

O seu a seu dono



Foi assinado recentemente um protocolo entre a Câmara Municipal de Sintra e as direcções executivas dos Agrupamentos de Escolas da Rede Pública do Concelho, no sentido de serem transferidas verbas e ser dada autonomia às escolas para que possam proceder a pequenas reparações e manutenção de equipamento escolar.

Trata-se de uma medida positiva, obviamente. No entanto, há que dar o seu a seu dono - esta medida constava do Programa Eleitoral do PS nas últimas eleições autárquicas que, pelos vistos, foi lido com atenção pelos eleitos da maioria de Direita.

E já agora, também não valia a pena terem ficado com algum eventual peso na consciência, ao nem sequer convidarem os vereadores do PS para a cerimónia de assinatura deste protocolo - afinal, se continuarem a seguir e aplicar o Programa do Partido Socialista em muitas outras vertentes, certamente Sintra ficará melhor!...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Promessas, promessas...


"Orçamento do Estado 2010


PSD deixa cair proposta para alargar subsídio de desemprego


A direcção do grupo parlamentar social-democrata mandou retirar da agenda do debate de amanhã a sua proposta para aumentar em seis meses o prazo de atribuição das prestações de subsídio de desemprego que se esgotem em 2010, apurou o Negócios."


in Jornal de Negócios, hoje


A verdade é como o azeite, vem sempre à tona - creio que a demagogia também... Ou então alguém fez mal as contas e prometeu o que não podia!...

domingo, 17 de janeiro de 2010

O Haiti mora aqui


Mãos certamente erguidas no ar quando a terra tremeu e o medo se passeou nas ruas. Minutos que pareceram horas, gemidos, gritos, dor. Hoje o Haiti "mora" novamente aqui. Aqui na nossa estupefacção, na nossa mágoa, na nossa impotência de formigas urbanas perante a força desta mãe-Terra. O Haiti que Caetano canta quando ligamos o rádio na manhã chuvosa e ouvimos as primeiras notícias ainda de olhos semicerrados. Nas mãos com que conduzimos o carro para o trabalho há um tremor ligeiro que teima em não passar, à medida que nos apercebemos da dimensão da tragédia.

Mãos. Mãos de mães que afagam crianças mortas. Mãos de velhos tentando tapar invisíves lágrimas porque ao corpo tudo agora falta, comida, água, e os ossos, a pele, o cérebro, o coração reservam toda a réstia de precioso líquido na tarefa de sobreviver. Mãos que continuam a juntar-se numa oração numa língua antiga a um Deus que parece ter-se esquecido que tanto sofrimento de tantos anos não merecia agora um tão cruel castigo. Mãos que resgatam gente dos escombros, respirando poeira, cuspindo pedras, sorrindo porque a Vida lhes deu nova oportunidade. Que recebem pacotes de bolachas distribuídas por soldados da ONU e os guardam nos farrapos que lhes cobrem o corpo como se preservassem barras de ouro. Uma menina com 4 ou 5 anos sorri feliz para a mãe porque conseguiram alguns desses pacotes, a vida continua e sobreviver é um exercício que rapidamente nos revela o artifício de todas as nossas convenções e berloques sociais...

Nestes dias do nosso Inverno, por entre as queixas da chuva que já cansa e da eterna "crise" com que sempre vivemos e que para tudo parece servir de alibi ou justificação paralisante, o Haiti "mora" novamente aqui. Entra-nos pelos olhos, revolve-nos as entranhas, cria momentos ainda há semanas atrás impensáveis como quando ouvimos dizer que o governo de Cuba abriu o seu espaço aéreo para deixar passar os aviões de ajuda às vítimas do sismo que ostentam nas asas a bandeira "inimiga", a bandeira dos Estados Unidos da América. Ou quando um qualquer fanático religioso, do pé para a mão, resolve utilizar a desgraça de tão miserável gente para falar em "castigo" por "pactos com o Demónio", escorados num passado de vudu, fumo de charuto negro, galinhas escorrendo sangue e quadros sépia de um velho combate colonial. Luz e sombras.

Mãos. Aquelas que esperam as nossas. Mãos sujas, mãos feridas, mãos gretadas, mãos multicores. Mãos que esperam o aperto forte das nossas, agora, já. Porque o Haiti é, por estes dias, um "abalo" para tudo aquilo que achamos garantido no dia a dia e para a lamechice gratuita com que tantas vezes iludimos a nossa inércia.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"Câmara Municipal de Sintra não se candidatou aos fundos do QREN para o rio Jamor"


Leia aqui mais um exemplo da "Dedicação Total" a Sintra... Comentários para quê?...

Lembram-se da tragédia, há 1 ano atrás, com a morte de duas irmãs arrastadas para as águas frias e revoltas desta ribeira?...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Breves

No passado dia 3 de Janeiro comemorou-se o 50º aniversário da fuga de Álvaro Cunhal (e de um conjunto de outros militantes comunistas) da prisão de Peniche.

Tratou-se de um feito digno de registo na luta contra o fascismo em Portugal e contribuiu para abalar os alicerces do regime ditatorial, tal a espectacularidade e surpresa daquela acção. Já era tempo de vermos, por exemplo, as nossas televisões a investirem em séries (dramáticas ou documentais) sobre esse período da nossa História recente, contribuindo para honrar a memória de quem tudo sacrificou nesse combate pela liberdade e evitando a ignorância junto das novas gerações.

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Finalmente foi possível chegar a um acordo entre o Ministério da Educação e os sindicatos dos professores, depois de algum extremar de posições que, em determinados momentos, raiou o absurdo.

No essencial (e ao contrário do que alguns, erradamente, defendiam) não se recuou na intenção de avaliar, seriamente, o desempenho dos docentes (tal como o de todos os restantes funcionários do Estado, aliás). Saíram derrotados todos quantos defendiam um "recuo" ou uma absurda "auto-avaliação", numa altura em que foi fácil cavalgar uma certa "onda populista" - ficaram a ganhar a escola pública, os alunos e respectivas famílias, com um aumento do grau de exigência relativamente ao desempenho dos seus principais agentes, os professores.

Está de parabéns a actual Ministra da Educação - mas também José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues que tiveram a coragem, nos momentos certos, de não colocar em causa o essencial, apesar de toda a pressão e de todos os ataques.

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Facto 1: quando Cavaco Silva foi primeiro-ministro não apoiou a candidatura do Ernesto Melo Antunes a presidente da UNESCO, tendo, assim, o nosso País perdido, na altura, a oportunidade de ter um Português à frente de tão prestigiada instituição.

Facto 2: recentemente, no âmbito da realização na Fundação Calouste Gulbenkian do colóquio "Liberdade e Coerência Cívica - O exemplo de Ernesto Melo Antunes na História Contemporânea Portuguesa", Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, relembrou tal atitude, a propósito da ausência, neste evento, do Presidente da República, Cavaco Silva. "As atitudes ficam com quem as pratica", afirmou.

Em Sintra, na última Assembleia Municipal (em que não pude estar presente), uma moção apresentada pelo Partido Socialista onde se pretendia, acima de tudo, homenagear Ernesto Melo Antunes (mas sem esquecer alguns factos) parece ter causado perturbação junto da maioria de Direita (PSD/PP), que acabou por protelar a votação da mesma.

Calculo que o PS mantenha a apresentação desta Moção (nos mesmos e exactos termos) na próxima sessão da Assembleia Municipal - porque contra factos não há argumentos e a memória de Melo Antunes não merece menos.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Hospital em Sintra - história sem "rasuras"...


Parece que a questão da construção de um novo Hospital em Sintra continua a causar alguns "incómodos" para as bandas do PSD, pelo menos a julgar por algumas reacções após conferência de Imprensa de vereadores do PS onde tal questão foi referida.

Sejamos claros: a construção de um novo Hospital em Sintra é algo que se tem arrastado no tempo e que já é, desde há muito, uma necessidade premente para a população deste Concelho. Sucessivos Governos (do PS e do PSD) não souberam (ou não quiseram) resolver a questão, em conjunto com os responsáveis locais. Ponto.

Mas se tudo isto é verdade, também não deixa de ser verdade que a questão do Hospital não pode ser utilizada como "promessa" de campanha (e o PSD, em Sintra, tem-na repetido sucessivamente e voltou a acenar com ela na recente campanha eleitoral autárquica), para depois, ganhas as eleições, se "empurrar" o problema para outrém, como se aos responsáveis autárquicos (com o Presidente da Câmara à cabeça) nada mais fosse exigido a não ser "esperar sentado" pela solução.

Para quem parece só agora ter "acordado" para os problemas de Saúde no nosso Concelho, é também bom recordar que, em 2001, o Ministério da Saúde realizou com a Câmara de Sintra, um conjunto de contratos-programa para a construção dos novos centros de saúde e que, em 31 de Dezembro de 2004 (data limite para a sua construção), nada tinha sido feito, quer por parte do Ministério da Saúde, quer da CMS, para concretizar tal desiderato, perdendo-se assim um tempo precioso.

No que diz respeito à construção de Hospital em Sintra, a Drª Ana Gomes, vereadora eleita pelo PS, também referiu recentemente a responsabilidade do actual presidente da CMS, “que congelou o processo que a dr.ª Edite Estrela tinha em marcha, com o terreno que estava identificado”, na zona da Cavaleira (Algueirão-Mem Martins). Em entrevista ao Jornal da Região, salientou que “só não temos hospital em Sintra, ainda hoje, porque o dr. Fernando Seara não se interessou. O presidente da Câmara desinteressou-se completamente do Hospital de Sintra”. E acrescentou que o Dr.Fernando Seara, quando interpelado pelo Governo para sugerir localizações, ofereceu "o velho Hospital da Vila, que, obviamente, não tem condições nenhumas para um equipamento criado de raiz(...)".

Em síntese - estamos todos de acordo que a construção de um Hospital em Sintra é, a cada dia que passa, uma urgência renovada. Mas não pode (nem deve) o PSD, em Sintra, partido que, sózinho ou acompanhado, mais anos leva de responsabilidades na gestão administrativa deste Município, esquecer todos os dados desta longa "história" ou querer lavar as mãos como Pilatos.