Uma nuvem de poeira com origem num vulcão islandês tem pairado sobre a Europa, nos últimos meses, perturbando o tráfego aéreo. Tal como essa nuvem de poeira, paira igualmente sobre o projecto político e económico europeu uma enorme nuvem cinzenta de pessimismo e dúvida. A palavra “crise” instalou-se definitivamente nas primeiras páginas dos jornais e começa a doer na pele (e na bolsa) de muitas famílias por essa Europa fora, incluindo as portuguesas, com os sacrifícios a que são submetidas pelos Governos respectivos, tentando equilibrar frágeis orçamentos nacionais.
Uma crise que começou por ser financeira (e que teve origem – será bom não o esquecer – num quadro de desenfreada especulação financeira e numa “bolha” artificial criada pelos grandes especuladores financeiros a nível global) degenera agora numa crise social de contornos ainda indefinidos. Os mercados reagem de forma quase esquizofrénica – “afundam-se” perante a perspectiva de elevados défices e da possibilidade de incumprimento por parte das Nações; mas também não recuperam nem se animam quando são tomadas as medidas restritivas que, teoricamente, levariam a tal reacção. Temem o incumprimento – mas também a recessão a que algumas medidas restritivas poderão conduzir. No entretanto, as famílias da classe média sentem-se “acossadas”, vêem os seus rendimentos reduzidos mas os encargos contraídos manterem-se ou até crescerem, temem o futuro, não entendem que todas as “facturas” lhes sejam impostas quase sempre em exclusivo.
Tal como na Revolução Industrial, vivemos uma era de profunda mudança política, social e económica. Se no século XIX se registaram profundas alterações no modelo produtivo, com os movimentos migratórios dos campos (agricultura) para as cidades (fábricas) e a “exclusão” de muitos milhares que não se adaptaram ou não conseguiram integrar-se nesse novo modelo, também hoje se vislumbram os primeiros contornos sérios de uma Revolução a que chamaria do “Conhecimento”, que veio alterar não apenas o modelo de produção mas a forma como cada indivíduo se relaciona (ou posiciona / “transacciona”) num mercado de trabalho completamente aberto.
Uma crise que começou por ser financeira (e que teve origem – será bom não o esquecer – num quadro de desenfreada especulação financeira e numa “bolha” artificial criada pelos grandes especuladores financeiros a nível global) degenera agora numa crise social de contornos ainda indefinidos. Os mercados reagem de forma quase esquizofrénica – “afundam-se” perante a perspectiva de elevados défices e da possibilidade de incumprimento por parte das Nações; mas também não recuperam nem se animam quando são tomadas as medidas restritivas que, teoricamente, levariam a tal reacção. Temem o incumprimento – mas também a recessão a que algumas medidas restritivas poderão conduzir. No entretanto, as famílias da classe média sentem-se “acossadas”, vêem os seus rendimentos reduzidos mas os encargos contraídos manterem-se ou até crescerem, temem o futuro, não entendem que todas as “facturas” lhes sejam impostas quase sempre em exclusivo.
Tal como na Revolução Industrial, vivemos uma era de profunda mudança política, social e económica. Se no século XIX se registaram profundas alterações no modelo produtivo, com os movimentos migratórios dos campos (agricultura) para as cidades (fábricas) e a “exclusão” de muitos milhares que não se adaptaram ou não conseguiram integrar-se nesse novo modelo, também hoje se vislumbram os primeiros contornos sérios de uma Revolução a que chamaria do “Conhecimento”, que veio alterar não apenas o modelo de produção mas a forma como cada indivíduo se relaciona (ou posiciona / “transacciona”) num mercado de trabalho completamente aberto.
O Trabalho de hoje exige cada vez menos força física ou repetição burocrática – e, cada vez mais, originalidade, criatividade, prestação de um melhor serviço. As máquinas do passado praticamente não precisam quem as opere – mas sim quem conceba os novos produtos que elas se encarregarão de fabricar. Já não basta ter uma porta aberta e esperar que os clientes entrem – há que procurar factores diferenciadores da concorrência, especialmente em termos de prestação de um melhor serviço, com maior disponibilidade horária, com conhecimento profundo do produto vendido, com geração de “proximidade” face às necessidades do cliente, etc. Tal como no passado se destruíam as máquinas que a Revolução Industrial criara, tentando inutilmente deter a marcha do inexorável progresso, veja-se agora para onde se dirigem as “pedras” e os cocktails molotov (físicos ou discursivos): para os bancos, para o comércio, para as "marcas" de sucesso, para os novos “magnatas do Conhecimento” (Windows / IBM / Apple, etc).
É neste “caldo” que vivemos e no qual teremos que construir as soluções de futuro. A Sociedade do Conhecimento é uma realidade e é nesse âmbito que se reformulará o valor do factor trabalho, que se criarão novas carreiras (as Universidades começam a adaptar-se e a criar novas soluções académicas), que se exigirão novas regras na contratação, que se transformarão os sindicatos, que se estreitarão laços entre países. É precisamente por isso que aprender Inglês (indubitavelmente a actual língua universal) no Ensino Básico ou aceder a um computador portátil, não são “caprichos” que alguns néscios ou inconscientes, entre nós, se apressaram a criticar – são sinais de preocupação, ainda que rudimentares, com um futuro que já está aí e onde os novos analfabetos, os novos “excluídos”, serão aqueles que, efectivamente, desconhecerem esses saberes básicos.
Posto tudo isto, ainda assim a “nuvem” persiste… Talvez porque a sensação é a de que esta “Revolução” está órfã de uma efectiva liderança política. Com efeito, ninguém pode ter como “projecto de vida” o equilíbrio de um qualquer défice. Ninguém pode motivar-se se o horizonte que vê é cada vez mais negro. Nenhum “modelo europeu” digno desse nome pode passar apenas pela lógica financeira e pela contabilidade organizada das Nações. Falta liderança. Falta condução. Falta visão. A Europa de Merkel, de Durão Barroso e de Sarkozy é uma Europa de “mangas de alpaca”, aprisionada num enorme colete de forças de onde parece incapaz de sair. Não há rasgo. Não há projecto. E é por isso que os povos se agitam, temem o futuro, se angustiam. Mesmo nos Estados Unidos, até ao momento, Obama foi mais “promessa” do que “realidade”…
É neste “caldo” que vivemos e no qual teremos que construir as soluções de futuro. A Sociedade do Conhecimento é uma realidade e é nesse âmbito que se reformulará o valor do factor trabalho, que se criarão novas carreiras (as Universidades começam a adaptar-se e a criar novas soluções académicas), que se exigirão novas regras na contratação, que se transformarão os sindicatos, que se estreitarão laços entre países. É precisamente por isso que aprender Inglês (indubitavelmente a actual língua universal) no Ensino Básico ou aceder a um computador portátil, não são “caprichos” que alguns néscios ou inconscientes, entre nós, se apressaram a criticar – são sinais de preocupação, ainda que rudimentares, com um futuro que já está aí e onde os novos analfabetos, os novos “excluídos”, serão aqueles que, efectivamente, desconhecerem esses saberes básicos.
Posto tudo isto, ainda assim a “nuvem” persiste… Talvez porque a sensação é a de que esta “Revolução” está órfã de uma efectiva liderança política. Com efeito, ninguém pode ter como “projecto de vida” o equilíbrio de um qualquer défice. Ninguém pode motivar-se se o horizonte que vê é cada vez mais negro. Nenhum “modelo europeu” digno desse nome pode passar apenas pela lógica financeira e pela contabilidade organizada das Nações. Falta liderança. Falta condução. Falta visão. A Europa de Merkel, de Durão Barroso e de Sarkozy é uma Europa de “mangas de alpaca”, aprisionada num enorme colete de forças de onde parece incapaz de sair. Não há rasgo. Não há projecto. E é por isso que os povos se agitam, temem o futuro, se angustiam. Mesmo nos Estados Unidos, até ao momento, Obama foi mais “promessa” do que “realidade”…
As pessoas questionam-se legitimamente – de que serviram os sacrifícios feitos há vinte e tal anos atrás, se de repente parecemos voltar à estaca zero? Onde está a “nossa” Europa de bem-estar e desenvolvimento generalizados? O que foi feito de tantos milhões em apoios e subsídios que, em Portugal, especialmente nos “anos dourados” das maiorias do 1º ministro Cavaco Silva, visaram reformar profundamente o País e deixá-lo preparado para evitar “crises” como a actual? Afinal, duas décadas volvidas e estamos novamente a ser confrontados com um cenário de empobrecimento generalizado, de recessão, de medo do futuro?...
É urgente, assim, “refundar” a Comunidade Europeia. Essa “refundação” só poderá ser feita por lideranças determinadas e visionárias, capazes de sacrificar o que for necessário agora mas em função de uma meta clara e objectiva a atingir, chame-se ela “paz”, “desenvolvimento sustentado” ou “Conhecimento”. A Europa tem todas as condições para liderar uma Revolução do Conhecimento a nível mundial, até pelas relações privilegiadas com África, Ásia e América Latina, com quem pode estabelecer novas pontes e criar novas parcerias. O exemplo de paz e tolerância, durante décadas, dentro das fronteiras da Europa, pode ainda ser alargado com a adesão da Turquia e possibilitar um novo diálogo com o Irão, tal como agora foi feito pelo Brasil na difícil questão do urânio enriquecido. Disseminar Conhecimento deve ser um desígnio europeu. Só o Conhecimento gera tolerância, diálogo, desenvolvimento. Em seu redor é possível desenvolver novas indústrias e serviços na área dos conteúdos e da criatividade em geral, articular com o Turismo, alicerçar com mão de obra qualificada e formação à medida. A Europa pode começar a fornecer as “canas para pescar” em vez do peixe já pescado. O nosso “petróleo” é o Conhecimento e há todo um campo por explorar num Mundo onde a pobreza e a exclusão ainda são (tristemente) reinantes.
Recordemos que, mesmo numa cidade de Londres barbaramente destruída pelos ataques aéreos nazis, durante a 2ª Grande Guerra, a população “persistia” em reunir-se em grandes salões de baile e dançar ao som de uma qualquer orquestra da época, com sorrisos rasgados que escondiam a profunda dor que certamente sentiam. Centenas de pessoas dançavam e rodopiavam durante horas – enquanto o seu mundo ruía, os seus entes queridos morriam, o amanhã era incerto. Mas aquelas pessoas tinham Esperança e Determinação. O seu sacrifício fazia sentido. Nenhum inimigo, por mais poderoso que fosse, as faria desistir. Queriam demonstrar que nada podia abalar o seu patriotismo e a sua defesa da Democracia, custasse o que custasse. Para que tal sucedesse foram determinantes líderes visionários, como Churchil ou De Gaulle, obviamente.
São esses líderes que urge encontrar nos nossos dias para que, tal como a chuva ajuda a dissolver a nuvem de partículas originada pelo vulcão islandês, possam também “dissolver” esta angústia das populações à procura de referências concretas para a construção do futuro. Caso contrário talvez estejamos a caminhar, inexoravelmente, para o fim da união europeia tal como os seus pais fundadores a conceberam, sem que se vislumbre qualquer alternativa, democrática e progressista, válida.
É urgente, assim, “refundar” a Comunidade Europeia. Essa “refundação” só poderá ser feita por lideranças determinadas e visionárias, capazes de sacrificar o que for necessário agora mas em função de uma meta clara e objectiva a atingir, chame-se ela “paz”, “desenvolvimento sustentado” ou “Conhecimento”. A Europa tem todas as condições para liderar uma Revolução do Conhecimento a nível mundial, até pelas relações privilegiadas com África, Ásia e América Latina, com quem pode estabelecer novas pontes e criar novas parcerias. O exemplo de paz e tolerância, durante décadas, dentro das fronteiras da Europa, pode ainda ser alargado com a adesão da Turquia e possibilitar um novo diálogo com o Irão, tal como agora foi feito pelo Brasil na difícil questão do urânio enriquecido. Disseminar Conhecimento deve ser um desígnio europeu. Só o Conhecimento gera tolerância, diálogo, desenvolvimento. Em seu redor é possível desenvolver novas indústrias e serviços na área dos conteúdos e da criatividade em geral, articular com o Turismo, alicerçar com mão de obra qualificada e formação à medida. A Europa pode começar a fornecer as “canas para pescar” em vez do peixe já pescado. O nosso “petróleo” é o Conhecimento e há todo um campo por explorar num Mundo onde a pobreza e a exclusão ainda são (tristemente) reinantes.
Recordemos que, mesmo numa cidade de Londres barbaramente destruída pelos ataques aéreos nazis, durante a 2ª Grande Guerra, a população “persistia” em reunir-se em grandes salões de baile e dançar ao som de uma qualquer orquestra da época, com sorrisos rasgados que escondiam a profunda dor que certamente sentiam. Centenas de pessoas dançavam e rodopiavam durante horas – enquanto o seu mundo ruía, os seus entes queridos morriam, o amanhã era incerto. Mas aquelas pessoas tinham Esperança e Determinação. O seu sacrifício fazia sentido. Nenhum inimigo, por mais poderoso que fosse, as faria desistir. Queriam demonstrar que nada podia abalar o seu patriotismo e a sua defesa da Democracia, custasse o que custasse. Para que tal sucedesse foram determinantes líderes visionários, como Churchil ou De Gaulle, obviamente.
São esses líderes que urge encontrar nos nossos dias para que, tal como a chuva ajuda a dissolver a nuvem de partículas originada pelo vulcão islandês, possam também “dissolver” esta angústia das populações à procura de referências concretas para a construção do futuro. Caso contrário talvez estejamos a caminhar, inexoravelmente, para o fim da união europeia tal como os seus pais fundadores a conceberam, sem que se vislumbre qualquer alternativa, democrática e progressista, válida.
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