terça-feira, 4 de maio de 2010

Os sabichões...


Em Portugal há um grupo restrito de pessoas que possui as receitas correctas e exactas para resolver todas as crises financeiras – são os ex-Ministros das Finanças, ex-Governadores do Banco de Portugal, ex-Ministros da Economia, etc, reconvertidos em comentadores de jornais ou de debates televisivos. Enquanto desempenharam as nobres funções ministeriais para as quais foram escolhidos, por um qualquer capricho da natureza ou maldição secular, raramente aplicaram as medidas que, agora, quais gurus infalíveis de elevado gabarito, apregoam aos 4 ventos, com ar grave e compungido. Mal saíram do ministeriável cargo, e após saltitarem de Conselho de Administração em Conselho de Administração de várias empresas públicas ou privadas, carregando sobre os ombros o trágico acumular das tarefas de Presidentes, administradores não-executivos, consultores ou simples pitonisas da alta finança, eis que se transfiguram e, tal como médiuns em transe, começam a debitar automaticamente um outro discurso, a elencar mil e uma soluções que jamais puseram em marcha, mil e uma maravilhas que, sendo concretizadas, nos conduziriam ao Paraíso terreal!...

Claro que, por vezes, também parecem discordar entre si, relativamente às soluções a perseguir. Pura ilusão auditiva! Porque o fio condutor é normalmente o mesmo: começa em “cortar salários” e “despedir”, passa pelo “congelamento de regalias de funcionários públicos”, esmera-se na repetição exaustiva da palavra “sacrifício” e termina em “não se sabe quanto tempo vai durar esta crise”, porta aberta para que as “medidas drásticas” possam ser prolongadas enquanto tal for considerado conveniente. Pelo meio é preciso atacar sem dó nem piedade a classe média, essa mole de egoístas e consumistas desenfreados que levaram o País para o abismo com as suas manias de receberem pontualmente o salário no fim de cada mês e exigirem que lhes paguem o trabalho extraordinário!...

É por estas e por outras que já descobri quem é o culpado desta grave crise financeira que estamos a atravessar, depois de escutar com muita atenção o tal grupo de “sábios”, desde o Dr.Medina Carreira (o grão-mestre desta panóplia) até ao Dr. Braga de Macedo, passando pelo Engº Mira Amaral ou Dr. Silva Lopes.

No início, qual ingénuo, estava convencido que a crise se devia à especulação internacional, à tenebrosa teia tecida pela alta finança, de conluio com políticos corruptos ou inaptos, cheguei até a insultar intimamente um tal Madoff, ele que foi responsável por uma fraude a rondar os 65 mil milhões de dólares.

Puro engano!

O culpado (mesmo!) da actual situação em que estamos é o meu vizinho do 8º andar esquerdo!

Duvidam?... É funcionário público, recebe uma fortuna que ronda os 700 euros mensais brutos, para além de ter direito a 13º mês e subsídio de férias que utiliza para pagar algumas dívidas e o Imposto Municipal de Imóveis que aumenta todos os anos, a mulher trabalha como caixa num hipermercado e arrecada mais um ordenado mínimo, pediram crédito para comprar o T2 onde vivem com os dois filhos, ele vai de comboio todos os dias para o emprego e ela apanha 2 autocarros, mas têm um Fiat Panda parado à porta que estão a pagar a crédito (que o banco lhes ofereceu, pressuroso, quando compraram a casa), os filhos andam na escola pública e (vejam o tremendo descaramento!) vão todos os anos de férias para a Figueira da Foz para casa de uma tia, durante 15 dias! Qual é o País que resiste a este abuso?! Como é que a Nação não há-de estar pelas ruas da amargura com gente desta?! Crédito para comprar casa e carro?! Ordenado garantido?! 13º mês?! Férias?!

Como é que depois há País que aguente e tenha recursos para pagar as 4 ou 5 pensões acumuladas, os vencimentos de administradores, as viaturas topo de gama, os cartões de crédito, os prémios de produtividade, os bónus, as indemnizações, as reformas antecipadas, enfim, tudo aquilo que é justo, dos “sábios” que nos apontam sempre o melhor caminho para sair da crise?...

Pois é…

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