"Assinado em Maio de 1994
Gestão PSD pagou "acordo milionário" a Moniz
Por João Pedro Henriques, Ana Sá Lopes
A administração da RTP nomeada pelo último governo PSD fez um acordo com José Eduardo Moniz, após a cessação do contrato de trabalho que ligava o ex-director da televisão pública desde 1977, que se traduziu naquilo a que hoje o ministro Morais Sarmento, poderia chamar "contratos milionários": tratava-se de um contrato para produzir um mínimo de 60 horas de programação por ano, um contrato de exclusividade pessoal e colaborações remuneradas autonomamente.
Logo na cláusula primeira do contrato assinado em 10 de Maio de 1994, a que o PÚBLICO teve acesso, "a RTP compromete-se, desde que salvaguardados os adequados padrões de qualidade, a encomendar programas para televisão ao 2º outorgante [José Eduardo Moniz], num mínimo de 60 (sessenta horas/ano), a preços correntes no mercado e cujo crescimento não deverá ser superior a 50 por cento da evolução da taxa de inflação". O acordo não especifica a MMM, mas diz que "a produção dos programas encomendados caberá ao 2º outorgante ou a empresa do sector, na qual o 2º outorgante tenha, no mínimo, a responsabilidade de produção". Ali se estabelece que "o pagamento do preço será efectuado, o mais tardar, no prazo de 30 dias após a emissão de cada programa, sem prejuízo de esquemas de pagamento fraccionado, à medida da execução dos trabalhos, quando a natureza dos programas, atentas as práticas correntes no mercado, o imponha".
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"Expresso" - 27 de Agosto de 2005
Mário Crespo nasceu em Coimbra. O pai, funcionário do Banco Nacional Ultramarino, e a mãe, professora na Escola Comercial, mudaram-se para Lourenço Marques ainda o seu único filho era bebé de colo. Mário fez todo o liceu na capital moçambicana e só quando a vida académica surgia à sua frente se mudou para a metrópole. Aluno interno no Colégio Pio XII, hesitava entre Medicina e Engenharia, até que foi alistado no Serviço Militar Obrigatório. «O que até acabou por ser melhor, porque não me decidia. Pedi transferência para Moçambique e, como tenho muita sorte, acabei no gabinete de imprensa de Kaúlza de Arriaga, o comandante chefe das Forças Armadas em Moçambique.»
As hesitações acabaram. Em Abril de 1974, acabado de sair da tropa, encontrou emprego em Joanesburgo, como estagiário da rádio da South African Broadcasting Corporation (SABC). Um par de anos depois, a televisão foi inaugurada na África do Sul e o pessoal da redacção da rádio era chamado a fazer uns biscates no ecrã. Mas, em 1982, a África do Sul do «apartheid» tornou-se claustrofóbica. «Chegou a haver edições da ‘Newsweek’ censuradas. E a sociedade era muito calvinista». Havia uma vaga na Voz da América, em Washington, mas profissionalmente pouco entusiasmante. Crespo sondou a RTP. Também estavam a abrir vagas. Quando chegou à redacção da televisão pública, Mário integrou-se imediatamente. «Éramos muito próximos. Fiquei amigo do José Eduardo Moniz, da Manuela Moura Guedes, do Sousa Tavares, de toda a gente. O ambiente era óptimo, de uma camaradagem que se estendia para fora da redacção».
(…)De regresso à RTP, já não para a 2, mas para o «Jornal de Sábado» na RTP 1, ficou «sob a protecção e tutela do José Eduardo Moniz». (...) O segundo regresso à RTP, depois de Washington, seria, no entanto, bem mais amargo. A visita do então primeiro-ministro António Guterres aos Estados Unidos foi o seu último trabalho como correspondente. Logo a seguir chegou a ordem da administração da RTP para voltar imediatamente a Lisboa. A família - com dois filhos de 10 e 13 anos «perfeitamente integrados nas escolas» - fez as malas e despediu-se da vida na América num ápice. «Foi muito traumático para eles», lamenta. A única filha, com mais de 18 anos, já matriculada em Direito, na Universidade Clássica, não sentiu o abalo.
Em Lisboa, Mário e a administração entraram num período de litígio. «Puseram-me vários processos disciplinares. Um deles, que acabaria por ser retirado, foi por ter escrito um artigo em que dizia o que devia ser a televisão pública e outro por ter telefonado para o ‘Fórum’ da TSF a dizer que o dr. Soares não devia ter um programa de entrevistas na RTP quando era candidato às eleições europeias». (…)Arons de Carvalho, o então secretário de Estado com a tutela da Comunicação Social e actual deputado socialista, visado directamente pelas críticas, recusou sempre publicamente a ideia de que o jornalista tivesse sido vítima de censura. Diz, apenas, laconicamente: "O que poderia dizer do Mário Crespo é tão desagradável que prefiro ficar calado". (..)
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Notícia em vários órgãos de Comunicação Social - 1 de Fevereiro de 2010
"Mário Crespo diz ter sido «ameaçado» por José Sócrates"
Foi durante um almoço, na última terça-feira, antes da apresentação do Orçamento de Estado, que Mário Crespo surge numa conversa entre Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e um «executivo da televisão».
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Notícia jornal "I" - 4 de Fevereiro de 2010
"Francisco Pinto Balsemão, Paulo Portas e Mário Crespo receberam o convite de Manuela Moura Guedes e aceitaram ser testemunhas no processo-crime da jornalista da TVI contra o primeiro-ministro, José Sócrates. Moura Guedes explica ao i as razões que a levaram a convidar Pinto Balsemão e Paulo Portas: "Foram os dois jornalistas e políticos, e em ambas as condições sempre respeitaram a liberdade de informação." E acrescenta: "Francisco Pinto Balsemão é o melhor patrão da comunicação social. Fossem todos como ele e Portugal seria diferente de certeza. Veja-se agora o caso que envolveu Mário Crespo."
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"Quando eu nascer para a semana ó mana,
quando eu nascer para a semana
hei-de ouvir o teu parecer
hás-de me dizer
se é cada coisa para seu lado
ou se isto anda tudo ligado"
Sérgio Godinho
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