sexta-feira, 13 de março de 2009

Demagogia


O dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, arrastou atrás de si meia dúzia de câmaras de TV e repórteres de jornais e deu um salto até ao Centro de Emprego de Sintra para, segundo ele, “fazer o balanço dos quatro anos do actual Governo e denunciar a política de desrespeito de Sócrates”.

À porta do referido Centro lá aproveitou para debitar alguns números sobre o desemprego, na ladainha usual de quem não perde uma oportunidade para explorar as dificuldades surgidas da actual crise internacional e, com isso, atacar politicamente o Governo. Louçã, aliás, poderia ter feito este “número” à porta de qualquer outro centro de emprego da Europa ou dos Estados Unidos e certamente teria ainda números mais elevados para “ilustrar” o problema – mas escolheu Sintra e fez muito bem porque Sintra é uma terra muito bonita, com gente acolhedora e, sobretudo, vale bastantes votos na área metropolitana de Lisboa…

Todos sabemos que o desemprego, infelizmente, é, nos dias de hoje, um grande problema a nível mundial. Não será necessária a presença de um qualquer demagogo à porta de uma fábrica ou de um centro de emprego, em busca de votos fáceis, para, infelizmente, termos consciência da situação. Só que estes “happenings” de Louçã fazem-me lembrar uma história que certa vez ouvi e que reza assim:

- numa certa aldeia havia uma casa onde os viajantes que passavam e não tinham recursos para pagar podiam encontrar uma sopa, um naco de pão e uma cama para dormir, tudo gratuitamente. Dentro da casa havia um conjunto de homens e mulheres que voluntariamente prestavam esse serviço, recebendo do Concelho de Chefes da Aldeia, os anciãos, algum apoio financeiro para comprar víveres. À porta dessa casa estava sempre um rapaz que berrava contra tudo aquilo, que era uma vergonha haver tanta gente necessitada a entrar e a pedir apoio, que o Mundo é injusto, que não havia direito de haver gente que podia pagar bons hotéis e ali os deserdados da sorte faziam fila para entrar, etc, etc, etc. Dentro da casa, dedicadamente e em silêncio, os voluntários faziam sopa, cortavam pão, enchiam jarros com água, lavavam a roupa das camas, estendiam toalhas, punham a mesa, ouviam histórias dos viajantes junto ao fogo que aquecia a sala central e, de regresso a casa, sentiam aquela recompensa especial que só a alma de quem ajuda, sem nada querer em troca, pode sentir. O rapaz era amplamente conhecido na aldeia porque todos os viam a berrar à porta da tal casa; os voluntários ninguém praticamente sabia quem eram porque entravam cedo, ainda de madrugada e saíam muitas vezes a altas horas da noite, nos diversos turnos que faziam.

A conclusão é óbvia: há sempre quem faça parte da solução dos problemas; e depois há os outros, os que se limitam a “explorar” os problemas. As “fitas” de Louçã ou de outros elementos do Bloco à porta ou dentro de Centros de Emprego não criarão, certamente, nem um único emprego – mas são realmente adequadas para dar protagonismo nos “média”, em ano eleitoral, a quem assim as utiliza.

Quem não se lembra dos “buzinões” e “caracóis” de gesso à beira do IC19, noutros tempos e noutros “protestos” em ano de eleições?... Lá cantava a Lena d´Água nos gloriosos anos 80: "Demagogia feita à maneira / é como queijo numa ratoeira..."

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