sábado, 2 de outubro de 2010

Portugal - e o Futuro?...


Não vale a pena meter a cabeça na areia - o conjunto de medidas que o Governo acaba de anunciar, no sentido de fazer frente à actual crise financeira, são duríssimas e atingem em cheio as classes médias, especialmente os funcionários do Estado.

Certamente nenhum Governo, em parte alguma do Mundo, tomará medidas desta índole sem fortes razões para tal, mas também não podemos negar que este é um momento de profunda reflexão sobre o nosso papel na Comunidade Europeia e qual o modelo de sociedade futura que pretendemos construir. A "obsessão com o défice" não podia ser criticada num passado recente e aceite agora sem qualquer esgar de desagrado. Essa "obsessão" acaba por ter laivos de cegueira quando, a qualquer custo, se pretende "igualar" países como a Alemanha e Portugal - como podemos atingir os mesmos patamares macroeconómicos se não temos a mesma dimensão de mercado, nem o mesmo desenvolvimento industrial, nem a mesma população, nem a mesma capacidade de penetração nos mercados internacionais?...

Mas esta é a triste realidade do Mundo em que vivemos e de uma Europa (como já o escrevi, em várias ocasiões, neste blogue) que não tem líderes dignos desse nome, com visão de futuro, com capacidade de mobilização, mas apenas "contabilistas" mangas de alpaca com o lápis atrás da orelha... A política vive subjugada à economia. Os homens de Estado de outrora comportam-se agora como gerentes de ocasião, pressionados pelos especuladores internacionais, esses, sim, os verdadeiros "gestores" das Nações e dos povos.

Neste cenário muita gente tinha razão ontem... ou tem razão hoje. Tinha razão o PCP, por exemplo, quando no passado alertava para o desmantelamento da nossa indústria e liquidação da nossa agricultura - não foi em nome da Europa que agora nos "esmaga" que substituímos a nossa produção por subsídios e aceitámos "mutilar" a nossa própria capacidade de auto-subsistência?... Não foi essa uma forma primordial de aumentar a nossa dependência do estrangeiro e reduzir, ainda mais, o nosso mercado interno?... Tal como tem razão também o actual Governo quando confessa a sua impotência para ultrapassar esta difícil situação sem tomar medidas que são, agora, altamente penalizadoras dos trabalhadores e ameaçam levar o País para uma recessão em 2011, mas que, não sendo tomadas, poderiam elevar ainda mais o patamar de dificuldades de financiamento externo do País...

Sinistra encruzilhada...

Já no que diz respeito aos partidos da Direita, sobretudo o PSD, continua a mesma "dança" na beira do parapeito - às segundas, terças e quartas organizam eventos com economistas ideologicamente próximos ou até seus militantes, onde são defendidos cortes ainda maiores nos salários, mais sacrifícios, mais rigor e dureza; depois às quintas, sextas e Sábados aparecem com ar compungido a atacar o Governo porque devia cortar na despesa do Estado sem penalizar as classes médias e os trabalhadores... Isto de se pretender estar bem com Deus e com o Diabo é, realmente, um exercício difícil e quando se estica a corda convém estar certo que se estará disposto a vê-la partir - caso contrário é como na história de Pedro e o Lobo, tantas vezes o rapaz gritou falsamente que o lobo vinha aí que no momento em que tal era verdade já ninguém o escutou...

Aguardemos pela apresentação concreta do Orçamento de Estado para 2011 e pela discussão democrática na Assembleia da República onde cada qual terá ocasião de esclarecer as propostas ou alternativas que defende. E esperemos que todos, sem excepção, coloquem o País acima das suas estratégias ou desígnios de Poder - não é apenas um Orçamento que está em causa, é todo um regime democrático que ameaça começar a esboroar-se numa época em que nos falta uma liderança com Visão e com capacidade para nos demonstrar que estes sacrifícios trarão um futuro melhor para os nossos filhos.

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