domingo, 20 de setembro de 2009

Basta!


Manuela Ferreira Leite nasceu em 1940. Frequentou os liceus Maria Amália Vaz de Carvalho e D. João de Castro e terminou a sua licenciatura em 1963 - tinha, então, 23 anos de idade. Entre 1964 e 1973, Ferreira Leite trabalhou como investigadora da Fundação Calouste Gulbenkian. Deu aulas, igualmente, no ISCEF, entre 1966 e 1979, tendo pertencido ao Conselho Directivo (a partir de 1973).

Em 1968 (quando Manuela Ferreira Leite tinha, então, 28 anos de idade), Mário Soares foi deportado sem julgamento para S.Tomé e, dois anos mais tarde, obrigado a exilar-se em França, devido ao seu combate contra o Estado Novo. Anteriormente, fora preso pela PIDE 12 vezes, num total de quase 3 anos.

Em 1969, com 24 anos de idade, Alberto Martins (actual líder da bancada do PS na Assembleia da República), jovem estudante universitário em Coimbra, está no cerne dos acontecimentos da Crise Académica (protesto dos estudantes universitários contra o regime ditatorial) e acaba detido pela PIDE. Manuela Ferreira Leite tinha, então, 29 anos de idade e prosseguia a sua tranquila carreira profissional. Desconhece-se o que pensaria sobre esta Crise Académica e sobre a repressão do Regime.

Com 22 anos de idade, Manuel Alegre, ainda jovem estudante universitário, apoiou a candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde é preso pela PIDE e condenado a seis meses de reclusão na Fortaleza de S. Paulo, em Luanda, acusado de tentativa de revolta militar contra a Guerra Colonial. Regressa a Portugal em 1964. A ameaça de nova detenção e de julgamento pelo Tribunal Militar levam-no a passar à clandestinidade e a partir para o exílio. Tinha 28 anos de idade. Manuela Ferreira Leite terminara a sua licenciatura um ano antes e estava, tranquilamente, como bolseira da Gulbenkian na Alemanha.

Portugal foi assim durante os anos de chumbo da ditadura do Estado Novo. Um País de medo, de perseguição a quem pensava diferente, de polícia política, de bufos. Um País de gente analfabeta, de gente pobre, de gente a emigrar para tentar matar a fome, de jovens mutilados e mortos numa tremenda Guerra Colonial. Um País de Censura Prévia, de saudação fascista de braço estendido, de torturas em Caxias, em Peniche, de exílio num campo de concentração chamado Tarrafal. Um País onde alguns viveram tranquilamente, outros viveram com imensos sacrifícios e alguns ousaram dizer "não"! E entre os que ousaram dizer "não" estiveram muitos jovens, que trocaram o conforto das suas futuras carreiras académicas, para lutar pela Democracia e pela Liberdade - jovens comunistas, socialistas, católicos, republicanos. Mas nunca esteve a jovem Manuela Ferreira Leite.

É por isso que esta conversa de chacha actual (repito - conversa de chacha!) do "medo" e da necessidade de "defender a liberdade", vinda, ainda por cima, de gente que nem um dedo mexeu, nem uma palavra pronunciou, quando era realmente difícil e arriscado defender esses valores, é algo que me revolta profundamente. E quando essa "acusação" é dirigida contra um partido como o Partido Socialista que SEMPRE se caracterizou, ao longo da sua História, precisamente por prezar e defender a Liberdade e a Democracia, antes do 25 de Abril e também depois, no período do PREC, quando tal era igualmente difícil, há algo de absurdo e de incompreensível.

Não pode valer tudo em política. É preciso dizer de vez a Manuela Ferreira Leite e ao PSD que basta de demagogia e de hipocrisia em redor da questão do "medo" e da "falta de liberdade" na sociedade actual, que basta de agitar "papões" para caçar votos, que basta de lançar atoardas que nunca se comprovam apenas para denegrir um adversário político!

Sabemos que o modelo de "democracia" de Manuela Ferreira Leite, segundo a própria afirmou, é exemplificado pela gestão de Alberto João Jardim na Madeira. Agora digam lá se não é preciso ter muita "lata" para vir tentar dar "lições" de democracia ao partido de Mário Soares, Salgado Zenha, Tito de Morais, Jorge Sampaio, Alberto Martins, Manuel Alegre, António Guterres, António Arnaut, Ferro Rodrigues e tantos outros que tudo sacrificaram quando era arriscado (carreira, vida pessoal, vida familiar etc) para que este PSD e a sua líder pudessem, hoje em dia, exercer o seu direito à Liberdade?... Haja memória e respeito pela mesma!

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