quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Uma questão de Educação


Parece que a questão da Educação se transformou, hoje em dia, num autêntico "campo de batalha", onde até já surgem os primeiros ataques físicos (com o lançamento de ovos por parte de alunos, por ex.) contra a Ministra da Educação. Tudo isto tem, no cerne, o protesto que os professores lançaram contra o sistema de avaliação de desempenho que o Ministério da Educação colocou em marcha, fazendo germinar a presente insatisfação.

Nao sei se o modelo de avaliação de desempenho proposto é perfeito - trabalho há mais de 20 anos em gestão de Recursos Humanos e não conheço nenhum modelo perfeito, aplicado em organização nenhuma do Mundo. Sei, apenas, aquilo que tem sido divulgado publicamente: que no anterior modelo de avaliação de desempenho (se é que podemos dar-lhe esse nome) praticamente todos os professores chegavam ao topo de carreira, mais tarde ou mais cedo.

Queixam-se os professores que o modelo proposto é demasiado burocrático, que perdem muito tempo a preencher papéis - admito que, efectivamente, um modelo de avaliação de desempenho digno desse nome, obrigue a algum trabalho adicional, nomeadamente de carácter mais burocrático, eventualmente penalizador de algum tempo que certamente alguns professores já contariam ter livre para outras actividades, inclusive do seu foro privado.

Tenho visto, igualmente, que os professores consideram absurdo que a sua avaliação seja feita pelos alunos, pelos pais e, pelos vistos, até pelos seus pares, a quem não reconhecem competência para tal, o que suscita a dúvida - quererão fazer auto-avaliação?... Quantos trabalhadores neste País definem o seu próprio sistema de avaliação de desempenho?..

Sabemos que hoje em dia existem professores em excesso no sistema de Ensino. Ano após ano, apesar do decréscimo das taxas de natalidade e da redução gradual do número de alunos nos diversos graus de ensino, milhares de licenciados, não podendo ou não querendo procurar emprego noutras áreas, acabam a "dar aulas", como se costuma dizer. Uns poderão ser considerados professores - outros não passarão de licenciados que, mal ou bem, foram dar umas aulas.

Obviamente que um modelo de avaliação de desempenho capaz de distinguir e de premiar os melhores terá que ter algum grau de complexidade e por isso todo este protesto dos professores parece apenas ter o objectivo de deixar tudo como está. Vejo muitos professores a gritar nas ruas contra "este modelo" - mas nunca ouvi nenhum a explicar, ainda que em traços largos, qual o modelo alternativo que propõem, que funcione, que não seja burocrático e que permita ter os resultados esperados.

Espero que Ministério e professores consigam polir algumas arestas e colocar um ponto final nesta verdadeira guerra do Alecrim e da Manjerona em que tudo isto ameaça transformar-se. Uma coisa é certa - deixar tudo como estava não me parece ser, sequer, opção. E os professores (os bons professores que, felizmente, existem) entenderão certamente que só terão a ganhar com um sistema de avaliação de desempenho que os distinga dos maus professores (que também existem, certamente, por mais que alguns queiram fazer crer que não).

Os professores são um elemento fundamental no sistema de Ensino - mas o centro desse sistema devem ser os alunos e é em função dos alunos que um Ministério da Educação digno desse nome deve trabalhar e desenvolver as suas políticas.

Duas notas finais:

- é desolador assistir ao espectáculo degradante de jovens (claramente instrumentalizados) que lançam ovos e insultos à passagem da Ministra da Educação. Mas é ainda mais desolador verificar que não há a mínima censura a este comportamento por parte dos professores e das suas estruturas sindicais. Pelo menos, até agora, não ouvi ou li nada nesse sentido;

- o espectáculo da demagogia mais primária que está a ser dado na Madeira pelo PSD de Alberto João Jardim, com a atribuição de "Bom", administrativamente, na avaliação de desempenho de todos os professores. Por cá, depois de também ter cavalgado a onda populista e fácil, desdizendo hoje o que dissera ontem sobre a necessidade de levar o modelo de avaliação de desempenho em frente, Manuela Ferreira Leite agora já nada diz relativamente ao que se passa na Madeira... Que credibilidade tem esta oposição?...

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