terça-feira, 15 de julho de 2008

A mordaça


Contaram-me no outro dia uma história extraordinária. De tal forma que, ainda hoje, tenho dúvidas se será real (como me garantiram) ou se não passará de mais um desses curiosos mitos urbanos, postos a correr por aí.

Vamos à história:

parece que existe uma certa região, de um certo país, onde os militantes de um determinado partido da oposição nao se coibem de chamar "mentiroso" ao Primeiro-Ministro, de o dizerem alto e bom som nas ruas, de o escreverem em jornais, comunicados e revistas, de lhe berrarem insultos na cara, de lhe fazerem "esperas" quando se dirige para reuniões do seu partido, etc, etc, etc. Muitos dos membros desse partido erguem cartazes em manifestações onde retratam o Primeiro-Ministro como um "burro" ou como um "cínico". Outros mostram, orgulhosos, panos com letras vermelhas berrantes onde se questiona, até, se o Primeiro-Ministro obteve a sua licenciatura de forma legal.

Quando questionados sobre essa forma de "ataque político", os militantes desse partido da oposição embespinham-se e vociferam contra quem pretende "impedi-los de usar a liberdade de expressão" a que têm direito.

Conta-se, ainda, que um destes dias, nesse tal País, nessa tal região, um militante do partido do Primeiro-Ministro criticou, aberta e frontalmente, a actuação política de um eleito local do tal outro partido, dos que nunca hesitam em insultar o Primeiro-Ministro sem contemplações, repetindo sempre que mais não fazem do que usar a "liberdade de expressão". Crê-se que o visado com a crítica achou especialmente ofensivo que quem o criticou tivesse usado expressões tão degradantes e humilhantes como "padeiro" e "padaria", algo que, convenhamos, ultrapassa em muito o "mentiroso" e "cínico".

A história acaba em Tribunal - a do "padeiro", não a do "mentiroso", porque a primeira é ofensa (segundo o visado), enquanto a segunda é "liberdade de expressão", segundo os militantes do partido do agora ofendido.

Confesso que ainda estou com alguma dificuldade em acreditar nesta história, há qualquer coisa aqui que não faz sentido, não acham?...

2 comentários:

Fátima Campos disse...

Espectacular texto!
É uma forma diferente de usar a liberdade e a democracia que o 25 de Abril de 1974 nos ofereceu. Essa gente parou no tempo. Ainda vivem na ditadura e exercem-na.
Beijinhos.

Fátima Campos disse...

Porque me esqueci, aproveito para lhe enviar os meus parabéns por este excelente blogue. Bastante criativo e com o seu humor como marca registada.
Fabuloso!
Beijinhos.
FC