sexta-feira, 13 de março de 2009

Quem defende Rio de Mouro?...


No dia 5 de Março p.p. o programa "Aqui e Agora" ,da SIC, dedicou uma emissão à crise e ao crime.

Nesse programa esteve presente o Presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro, Filipe Santos.

O apresentador do programa, Rodrigo Guedes de Carvalho, começou logo por caracterizar o Concelho de Sintra como "problemático", em termos de criminalidade. Depois, ao dar a palavra, por breves minutos, ao Presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro a caracterização que este fez da situação na sua freguesia foi, em traços largos, a seguinte:


- "a freguesia tem esse problema" [o crime é real];

- "há um sentimento de insegurança muito grande";

- "as pessoas desapareceram da rua a partir das 7 da noite, 6 da noite...";

- "estamos a falar desse tipo de criminalidade [violenta, segundo o entrevistador];

- "o mais importante é o roubo ou esticão, na estação dos Caminhos de Ferro, junto às escolas secundárias...";

- "2º em maior importância será o furto de veículos automóveis...";

- "carjacking é pouco noticiado...";

- "roubo de bens dentro dos veículos automóveis e algumas habitações...";

- "como é que a PSP pode fazer segurança?... Nós temos 34 agentes da PSP para 70 000 habitantes...".


Obviamente que o Sr.Presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro tem todo o direito de ir à televisão e fazer as afirmações que bem entender sobre os assuntos que bem entender - não é a sua liberdade de expressão que está em causa. Também é verdade que as sociedades urbanas, hoje em dia, têm problemas de criminalidade que não existiam há alguns anos atrás e que urge ter em consideração. Não há roubos em Cascais? Não há carjacking em Lisboa? Não há assaltos à porta de escolas no Porto? Não há assaltos a casas na Guarda?

Mas como habitante de Rio de Mouro há mais de 40 anos, não posso deixar de exprimir a minha indignação com este "quadro de terror" que foi traçado e associado a esta terra!

Indignação porque não houve a mínima palavra para enquadrar ou relativizar esta questão da criminalidade, que não é exclusiva de Rio de Mouro, obviamente e que, tal como referi, é uma questão das cidades modernas e das suas zonas envolventes, em todo o Mundo.

Indignação porque a afirmação sobre o "desaparecimento" das pessoas das ruas de Rio de Mouro a partir das "7 da noite, 6 da noite" é surrealista, sabendo-se que a maior parte das pessoas a essa hora ainda nem sequer chegaram a Rio de Mouro, vindas dos seus empregos em Lisboa, na sua grande maioria! E mesmo que se diga que a partir, eventualmente, das 10 da noite, há pouca gente nas ruas de Rio de Mouro, a questão que se deve colocar é antes outra - o que há para fazer em Rio de Mouro após essa hora? Há cinema? Há teatro? Há centro cultural? Há espaços de lazer colectivo? Há circuitos de manutenção? Não, não há NADA disso e, obviamente, ninguém sai de casa para andar a passear entre prédios! Refiro um exemplo que me parece significativo: na Amadora, na zona entre Alfornelos e a Buraca, a Câmara Municipal da Amadora construiu, oportunamente, um circuito de manutenção. É precisamente à noite, após as 7 horas da tarde e muitas vezes até às 9, 10 horas da noite, que se vêem inúmeras pessoas, homens, mulheres, jovens, fazendo algum desporto, caminhando, correndo, etc. Alguém será capaz de dizer que aquela zona, à noite, é mais segura do que Rio de Mouro?... A questão é que a utilização de um espaço pela população, a sua ocupação, a sua fruição, também contribui para "afastar" algumas "ameaças" e gera, precisamente, um sentimento de maior segurança. O que tem feito a Câmara de Sintra, por exemplo, em Rio de Mouro (e não só!) para "devolver" o espaço público aos habitantes, para o valorizar, para o tornar agradável, para o disponibilizar para uma utilização desportiva, cultural, gregária?... A criminalidade não se combate apenas com armas - e, no limite, seria preciso um polícia atrás de cada cidadão para haver segurança absoluta.

Indignação, ainda, porque o quadro traçado (repito, sem o mínimo enquadramento, relativização, um simples enunciado do género "não é um problema exclusivo de Rio de Mouro, obviamente...") contribui apenas para duas coisas: desvalorizar o património de quem aqui habita (alguém vai querer comprar a casa de um habitante do "faroeste", rodeado de "índios" e onde apenas os "bandidos" caminham nas ruas após as 7 ou 6 da noite?...); e contribuir para a descida veritiginosa da auto-estima mínima que cada pessoa deve sentir pelo sítio onde reside, se integra, cria os seus filhos.

Por tudo isto, perdoem-me a sinceridade, mas se o Sr.Presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro tem todo o direito aos seus 5 minutos de fama na televisão, tem todo o direito a fazer este tipo de declarações públicas, tem todo o direito a exprimir-se como entende - eu também tenho o direito a achar que Rio de Mouro não é nada disto, não é covil de banditagem, não é terra de ninguém, não é local de medo. E sobretudo tenho todo o direito a pensar que está mais do que na hora de eleger um outro Presidente de Junta para Rio de Mouro!

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