Há coisas que não se explicam. Porque não conseguimos.
Então foi assim: num momento estava a ouvir "Creator Spiritus", de Arvo Pärt, pelo puro prazer de escutar um compositor que admiro (não sou especialista, nunca serei, apenas tento ser "ouvinte" e já não é pouco...). A Páscoa aproximava-se e é um tempo em que (necessariamente) evoco a partida do meu pai deste patamar de existência - lembro-me de chegar ao trabalho na 2ª-feira seguinte ao Domingo de Páscoa desse ano de 2007 e receber a chamada telefónica que me informou da sua partida. Por isso ouvia esta música e mil imagens de meu pai me passavam pela mente e do "acaso" alguém me falou do acidente ocorrido com pessoa que ambos conhecíamos, mas com quem eu não tinha relação de amizade - em algumas circunstâncias teríamos, até, estado em "campos opostos", naquelas "discussões" surdas que tecem mil equívocos e se fundam mais no que ouvimos de outros do que daquilo que realmente sentimos a respeito de alguém. Que estava no hospital, para operação.
E a Páscoa ali a chegar, na esquina dos dias...
E volto de novo ao terreno daquelas coisas que não sabemos explicar mas que, do "nada", nos impelem a "ter que fazer" - porque "Creator Spiritus" me envolvia e de súbito relembro o grande Conhecimento e Amor daquela pessoa pela Grande Música, certamente continuaria a ouvi-la, fosse de que forma fosse, na cama de hospital onde aguardava intervenção cirúrgica. Um sinal?... Porque é que alguém me falaria do acidente, logo a mim que nem sou amigo, nem próximo? Porque me apeteceu "regressar" a Pärt, logo eu que não sou especialista, apenas o ouvinte ocasional?...
Há coisas que - efectivamente - não se explicam. Resolvi contactar com a pessoa em questão através da única forma que tinha - pelo Facebook, em privado. E não foi pelo acidente, nem pela operação, nem pelo Domingo de Páscoa que se aproximava, nem pela música - e foi por tudo isso, pelo "apelo interior" que é a estrada para Damasco quando menos esperamos e o clarão na alma que nos "cega" devolvendo outra "visão" das coisas e dos homens.
Temi que a pessoa em questão não entendesse. Talvez nem respondesse. Estaria no seu pleno direito. Assim não aconteceu, felizmente. E, no meu Domingo de Páscoa, celebrei uma vez mais esse imenso Mistério da morte como princípio de Vida - e ganhei um novo amigo.
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