quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Reflectir à Esquerda


Com a devida vénia transcrevo um interessante texto do Prof. Dr. Joffre Justino, Director Pedagógico da Escola Profissional Almirante Reis e que, em meu entender, merece alguma reflexão nestes tempos conturbados e onde urge quebrar dogmas e construir caminhos de futuro:


"O Fim do Modelo Cubano…


Fidel Castro terá dito que o modelo socialista de Cuba se encontra ultrapassado e está a ser considerado por uns tantos, por isso, como não estando, já, são, (foi-o dito por Juan Carlos Hidalgo do Center for Global Liberty…),por ter afirmado tal.

No entanto, 4 dias depois, a 14 de Setembro, a Central de Trabalhadores de Cuba e o Governo Cubano, ( na lógica comunista trabalham em parceria, ao contrário do que sucede nos países “capitalistas”, às centrais sindicais comunistas…que ignoram a concertação social), anunciavam que nos próximos 6 meses iriam ser despedidos do Estado 500 000 cidadãos e cidadãs, 10% da população activa, que auferem salários da ordem dos 20 dólares em média.

Cuba tem uma população activa de 4,9 milhões de Pessoas e destas trabalham no Estado todos menos 148 mil, isto é 4,752 Pessoas.

Entretanto, a economia de mercado cubana foi crescendo, desde o suicídio da URSS (e, depois, de quase todos os restantes países comunistas), à custa de um único sector – o do Turismo – e com fortes apoios económicos de países, hoje infelizmente também em forte crise, como a Venezuela e, em muito menor monta desde o findar da Guerra Civil, Angola.

Não é que Cuba não tenha andado no mercado mundial.

Andou.

Por exemplo exportando mercenários, militares, para guerras civis como a de Angola e da Etiópia, mas também médicos, em maior monta e mais recentemente para a Venezuela, mas para outros países também.

E fê-lo, na minha opinião, em pura lógica de economia de mercado, capitalista portanto, só que com o negócio controlado pelo Estado, em capitalismo de estado.

Mas, entretanto os tempos mudaram.

E, ainda por cima, o Turismo não se tem mostrado suficiente, por razões óbvias – Cuba para alimentar o Turismo tinha uma enorme despesa pública com a Importação de produtos vários que sustentavam e são essenciais para sustentar o Turismo, já que a economia cubana, dominantemente estatizada, é de uma baixíssima rentabilidade e produtividade .

A central sindical cubana, comunista, aliada da portuguesa CGTP, segundo a comunicação social, refere que, “O texto prevê a redução "de vultuosos gastos sociais", a eliminação de "subsídios excessivos", o "estudo como fonte de emprego e aposentadoria antecipada".”, o que como se vê equipara a comunista Cuba, em maior monta diga-se, às dificuldades, que Portugal vive perante esta crise mundial e que o PCP, o BE, a CGTP, em Portugal, denunciam, como sendo da culpa do actual governo.

Referindo o exagero de funcionários públicos, em nº, os maus hábitos que tal gera na economia, a mesma central sindical afirma que estes despedidos do Estado serão integrado no sector “não estatal da economia”.

Sem mais.

Sem afirmar se tal acontecerá a todos, não o pode fazer, quando tal acontecerá, não o pode fazer, e em que circunstâncias tal acontecerá, não o pode fazer.

Porque está numa dominância de economia de mercado.

Assim, a economia de mercado em Cuba, tenderá, provisoriamente é certo, mas tenderá, a reduzir-se, pequena que ainda é, economia de mercado bem frágil, (salários de 20 US dólares geram, claro, uma minúscula economia, interna, de mercado), o que gerará grave desemprego, para 10% de cubanas e cubanos, (basicamente, o mesmo nº de Pessoas Desempregadas que existem no capitalista Portugal).

Vivemos numa economia Global, e gostamos – dos telemóveis globais, e globalmente fabricados, dos automóveis globalmente fabricados, dos electrodomésticos globalmente fabricados, da mau de obra barata que recebemos com a Imigração e enviamos com a Emigração, assim como do ananás brasileiro, da manga venezuelana, etc,… Gostamos.

Mas, ao mesmo tempo, queixamo-nos – do Desemprego que as deslocalizações geram, do predomínio da economia financeira, imaterial, sobre a material, com a tendencial redução da Produção Nacional, dos Imigrantes que temos, etc.

A divisão internacional, comunista, do trabalho, base da economia cubana, base do modelo cubano que Fidel Castro assumiu, morreu, com o suicídio da URSS.

Ela tinha atingido o limite de crescimento possível, com a tecnologia existente, e morreu.

Marx explicou tal há cem anitos….

O Socialismo não se constrói em economias fechadas, (dai a Internacional, lembram-se?), nem fora do contexto da dinâmica das Pessoas, e o comunismo que conhecemos estatizou, limitou a criatividade e a dinâmica individual, e teve, por isso, de falir.

E o modelo de Cuba, dramaticamente, falirá e gerará ainda mais Desemprego e crise, ou, em alternativa, terá de mudar rapidamente.

Que, como se vê, é o que o governo comunista de Cuba deseja, mesmo que tal origine 10% de Desempregados…como em Portugal acontece.

O tempo do Socialismo global ainda não chegou, a tecnologia existente é ainda insuficiente.

Mas, mais que a tecnologia, é a estrutura cultural e mental das Pessoas, egoísta que é, que não o permite.

Marx também já explicou tal há já cem anos, ao criticar os proudhonianos de então, hoje os comunistas tipo PCP e populistas tipo BE.

Marx sempre referiu que o Estado não é o comunismo, é, tão somente, um mero instrumento de gestão, tendo criticado duramente os que imaginavam, ao seu tempo, o Estado a ser comunista…

Estamos com 210 milhões de desempregados no Mundo, mais 30 milhões que em ano anterior e toda a gente a começar pelo director geral do FMI já entendeu que o Mundo está em nova mudança.

Pelo que as receitas antigas deveriam ser enterradas e deveríamos pensar em novas receitas.

Em Portugal o governo, como os restantes, procura os novos caminhos que os economistas, bruxos que são, e por o serem, claro, desconhecem.

Reduzir a divida publica?

Tal aumenta o Desemprego, diminui a capacidade de consumo, reduz o Mercado, gera falências, e um ciclo maior de crise.

Aumentar a divida publica?

Tal gera desconfiança nos ditos mercados financeiros, aumento dos juros dos empréstimos e mesmo dificuldade em os obter.

Resta a ideia de gerir sustentadamente a divida pública.

Milimetricamente, que é o que se tem feito, para ir dinamizando a economia.

No Brasil foi mais fácil porque a Esquerda dominante, PT, PCdoB, sabiam que só podiam gerir assim a solução da crise em que o Brasil estava.

E, sustentadamente, só pode ser, gerar uma situação em que 30 milhões de brasileiros saíssem do limiar de Pobreza.

Aumentando o mercado pelo aumento da capacidade de consumo.

Ora quando se aumenta o mercado, aumenta a Riqueza também para os empresários que produzem e distribuem.

É pois pura manipulação, um texto de um tal Clóvis Rossi, que disse, à PCP/BE, no Publico, que, “Os ricos estão mais ricos, os pobres menos pobres e a desigualdade persiste”.

Porque na verdade o Brasil era “historicamente um país de obscena desigualdade social” e hoje, é um país onde a distribuição dos rendimentos se iniciou.

Pegando no índice de Gini este intelectual brasileiro lá tem de reconhecer que os dados que usa, de 2003, são anteriores a Lula.

No entanto, a verdade é absoluta, o aumento do mercado, gera mais lucros para as empresas que, não serão no seu todo, redistribuídos de imediato.

Mas foram-no em parte, melhorando as condições de mais de 30 milhões de brasileiros.

E tal aconteceu porque a Esquerda não anda nos caminhos que interessam sim à Direita e, sabendo que os ricos ganham com o aumento do mercado mais que os pobres, interessam-se sim com o aumento da riqueza entre os pobres.

É a posição do PCdoB aliado de Lula,por exemplo.

Um partido diga-se de tradição bem revolucionária.

Valia a pena que o PCP, o BE, a CGTP aprendessem com o que se passa em Cuba e com o que se passa no Brasil.

Porque a economia não são nºs, são Pessoas e Motivações de Pessoas.

Pelo que urge mudar esta mentalidade de um criticismo reducionista, derrotista, por forma a em conjunto, solidariamente, superarmos esta primeira Grande Crise da Globalização.

Porque Fidel tem mesmo razão, (e eu guevarista que fui, nunca fui castrista), não está de forma alguma maluco, e o modelo cubano “já não funciona”, de verdade.

E um bom leader assume.

Esperamos, nós os de expressão portuguesa, que o PCP e o BE o assumam também.



Joffre Justino"

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