Imaginem um patrão que não gosta dos seus funcionários. Que os acha apenas um encargo e considera que são indolentes, incapazes e resistentes à mudança. Um patrão que não perde um segundo a elogiar o trabalho de ninguém, mas demora horas a denegri-lo junto de terceiros. Imaginem que esse patrão tem, ainda, a possibilidade de alterar as leis do Trabalho a seu bel-prazer.
Esse patrão existe - chama-se Governo de maioria PSD/PP.
Para ele, os funcionários do Estado são uma "chatice", uma despesa, um peso, uma espécie de "carneiros" que devem caminhar docilmente a caminho do altar neo-liberal para serem imolados pelos sumos sacerdotes, chamem-se eles António Borges, Mira Amaral ou Passos Coelho.
Veja-se a reacção de Passos Coelho face à decisão do TC sobre os subsídios de férias e de Natal - profundo incómodo, palavras secas e agressivas do tipo "esperem pela pancada, que já vos digo como vai ser...", ressabiamento profundo por ter sido colocado em causa o dogma que considera que um "carneiro" não tem direito a balir, nem a espernear, apenas a esperar pela faca que o degolará com resignação.
Este Governo odeia profundamente os próprios funcionários do Estado. Odeia que não possa despedi-los tão facilmente como faz em empresas privadas onde os contratos são à semana. Odeia que ainda tenham protecção na doença, quando o ideal seria entregar tudo à iniciativa privada e cada qual que se amanhasse e se não tivesse dinheiro para o seguro de Saúde, que tomasse chá de ervas do caminho ou morresse sem fazer muito alarido. Odeia que ainda sejam sindicalizados e se organizem para protestar, quando praticamente já conseguiu liquidar tudo isso na iniciativa privada, onde o patrão tem a faca e o queijo na mão e basta alguém armar-se em parvo e sindicalizar-se e tem a porta aberta para o desemprego.
Obviamente que um tal patrão não pode defender, incentivar, motivar ou remunerar com justiça aqueles que trabalham para si - e é por isso que este Governo continuará a maltratar os seus próprios trabalhadores, a erigi-los como "egoístas" por se recusarem a ser os únicos a pagar a crise que não criaram, a arranjar todas as formas de se "vingar" pela derrota do TC na questão dos subsídios.
Esperemos pelos próximos episódios - mas o rosto fechado e incomodado do Primeiro Ministro, ao constatar que, afinal, ainda há Lei e Constituição em Portugal, não faz adivinhar nada de bom, especialmente quando todos já sentimos na carne a arrogância e intolerância com que esta gente, desta Direita autoritária e sedenta de "sangue", trata o factor Trabalho em Portugal, preferindo isentar de contributo para a crise quem ganha na especulação, na exploração ou nas grandes negociatas como o BPN e quejandos!...
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