domingo, 24 de julho de 2011

Um momento de viragem

António José Seguro foi ontem eleito, pelos militantes, Secretário Geral do PS.


Não terá tarefa fácil. O PS precisa, em primeiro lugar, de se reorganizar internamente, o que já será difícil e espinhoso. Depois (tão rapidamente quanto possível) terá que afirmar um verdadeiro projecto alternativo ao do actual Governo de Direita. Se é simples de escrever, não será nada simples de concretizar - mas foi para isso que António José Seguro recebeu a confiança de praticamente 70% dos militantes socialistas e estou certo que dará o seu melhor neste momento de viragem.


Estamos a assistir ao mais brutal ataque ao Estado (não apenas o Social, mas o Estado enquanto estrutura global de representação e fomento do "Bem comum") de que há memória no pós-25 de Abril. Atrevo-me, até, a dizer que muito daquilo que foram duras conquistas que os trabalhadores deste País obtiveram com a Revolução dos Cravos, estão agora sob constante ameaça. Com o pretexto da Crise financeira global, a Direita pura e dura que sempre ansiou pela fragilização das relações de trabalho e aumento de lucros à custa de modelos de produção baseados em baixos salários, encontra agora o terreno propício para desenvolver as políticas neo-liberais que sempre defendeu.


O actual Governo actua claramente como um Estado-Maior de interesses dos grandes grupos privados, preparando-se para entregar quase de borla aquilo que, no sector público, dá lucro e condenando à degradação gradual serviços essenciais como a Saúde, os Transportes ou a Educação, abrindo a porta para que, também por essa via, a procura dos privados tenha um acréscimo significativo a médio / longo prazo.


Rasgam-se contratos livremente assinados com trabalhadores, cortam-se salários com a maior das tranquilidades, constrói-se todo um cenário de "medo" e de "ameaça" que diminua a participação (nomeadamente através dos Sindicatos) e facilite a manipulação individual. Deitam-se para o lixo Acordos de Empresa e ignoram-se, ostensivamente, obrigações assumidas. Intocáveis e "sagrados" apenas os lucros da especulação, os contratos que obrigam as famílias a pagar as suas casas ou bens adquiridos e as "obrigações" dos trabalhadores face ao empregador - nada de diminuições, nada de compreensões, nada de "cortes"...


No que diz respeito ao Estado, cultiva-se e incentiva-se a disseminação da ideia de que se trata de um "peso". De que os seus trabalhadores são todos uns "parasitas" desnecessários. Atiçam-se ódios revelando salários ou regalias que possam criar raíz no terreno sempre fértil da inveja, sem importar se estamos a falar de carreiras com mais de 20 ou 30 anos ao serviço de todos. Muito fala a Direita de "mérito" e de "recompensar o esforço" mas depois "esquece-se" de ter esses factores em consideração quando estão em jogo os trabalhadores do Sector Público... Feitos os "estragos" alguém comprará barato aquilo que gradualmente se desvalorizou e um bem ou serviço que era de TODOS passará a dar lucro...apenas para ALGUNS!... Dá até vontade de perguntar por que razão o BPP e o BPN, privadíssimos e geridos por tantos dos "iluminados" desta Direita sapiente e opinativa, acabaram como todos nós sabemos, sendo que, no segundo caso, a "factura" ficou para todos nós pagarmos!... Para isso o Estado já serve!...


Não se podem pedir sacrifícios apenas a quem vive do seu trabalho, destruindo completamente a classe média. Não se pode pedir empenho quando se nega o futuro dos jovens. Não se constrói um País solidário tratando aqueles que trabalharam durante décadas como "lixo". Temos também que combater uma Europa onde Alemanha e França reunem de véspera e determinam o que todos os outros membros da Comunidade devem ou não aceitar! A solução para termos Paz e Desenvolvimento neste Continente tem que ser global e apontar caminhos de desenvolvimento e não de recessão.


Só o PS pode construir um projecto realmente alternativo e mobilizar esforços ao nível da Internacional Socialista para unir o protesto e a justa reivindicação dos trabalhadores da Grécia, da Irlanda, de Portugal e também da Espanha, da França e de todos os países onde começa já a ser clara a mesma intenção de fragilização dessas economias e recapitalização da alta finança à custa dos rendimentos do Trabalho.


Um desafio imenso para António José Seguro - mas também para todos os militantes socialistas que têm a obrigação de participar neste combate e contribuir para que a liderança que livremente escolheram tenha sucesso.

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