Segundo declarações à CNBC de um tal Silvio Peruzzo, economista no Royal Bank of Scotland (RBS), Portugal tem poucas opções que não seja a de pedir ajuda externa, face à actual crise financeira. E acrescenta:
"Como vimos nos casos da Grécia e da Irlanda, este é um momento muito difícil, com contínuos ataques especulativos [sobre Portugal] até que vejamos uma quebra no circuito sobre a forma de resgate. Será muito difícil a Portugal evitar um resgate no médio prazo e qualquer acordo quanto ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira tem de incluir uma solução para Portugal".
Ao ler estas declarações não pude deixar de me lembrar que o Royal Bank of Scotland (RBS) foi um dos bancos mais atingidos pela actual crise, tendo registado perdas de mais de sete milhões de libras e apenas tendo sobrevivido com uma injecção de 20 mil milhões de libras por parte do executivo britânico. Isto é – por parte dos contribuintes britânicos, os tais que viram, por exemplo, as propinas no Ensino Superior público TRIPLICAREM, com a chegada ao Poder de um Governo de centro-Direita. E que, no fundo, estão a pagar a factura para que o sr. Peruzzo mantenha o seu emprego e faça estas “previsões”… Será que ele também alertou, aconselhou ou previu o imenso “buraco” onde o banco onde ele trabalha se meteu?... O jornalista da CNBC não deve ter achado oportuno questioná-lo, suponho.
Estranhos dias estes…
Fala-se de “resgates” de países, expressão acertada para quem está “refém”. E é isso que realmente acontece. Países inteiros reféns da especulação e da ganância desenfreada que rebentaram com o sistema económico vigente. Nações reduzidas a vagabundos “sem-abrigo” na fila para a “sopa do FMI”. Governos democraticamente eleitos que pouco ou nada determinam sem “autorização” da todo poderosa chanceler alemã, Frau Merkel. Uma Comunidade Europeia onde Wagner manda silenciar Verdi, Chopin ou Aarvo Pärt.
E afinal que “resgate” é este que se propõe? Olhando para os exemplos da Irlanda e da Grécia trata-se, mais ou menos, de deixar que os mesmos “gansgters”, com imensas dívidas de jogo, que nos “raptaram”, exijam à nossa família que entregue tudo o que possui, desde a casa, passando pelo carro e acabando nas jóias, livros e até pacotes de bolachas guardadas na despensa, em troca de nos “libertarem” daqui por…10 anos, com a roupa com que nos raptaram! Como sobreviverá a nossa família? Não querem saber, não é problema deles – e têm carradas de razão, afinal os “gangsters”, como se pode constatar em qualquer filme do James Cagney, não se caracterizam pela generosidade ou comoção perante as dificuldades alheias. Uma coisa eles garantem – o problema deles fica resolvido, liquidando as dívidas de jogo que os andavam a atormentar…
Face a isto apetece quase dizer que estamos entre a forca ou a guilhotina, sendo que na forca ainda resta a esperança que a corda quebre com o peso…
Esta é a tragédia daquilo que já se designou Comunidade Europeia e que, agora, não passa de um Directório comandado pela Alemanha, isto é, determinado pela lei do mais forte – como na selva. Fomos “alunos obedientes” quando nos mandaram destruir a nossa Indústria, secar a nossa Agricultura, refrear as nossas Pescas. Acreditámos na complementaridade e entreajuda entre países iguais, livres e democráticos, neste território a que chamamos Europa. Fomos enganados e alguém pretende agora cancelar-nos o presente e liquidar-nos o futuro, transferindo os rendimentos de quem trabalha para a conta corrente de quem andou a brincar ao Monopólio dos produtos financeiros e “rebentou” com tudo… Por isso muitos dos bancos e outras instituições financeiras que registaram perdas significativas já começam a obter, novamente, lucros consideráveis – enquanto as famílias dos países mais fragilizados economicamente, sobretudo de classe média e média-baixa, se interrogam sobre o dia de amanhã e já sentem na pele as amargas dificuldades do presente.
Até quando a resignação será mais forte que o desespero?... Até quando as ruas da Europa, desta velha Europa, desta nossa Europa, não terão também o sobressalto inesperado da corrente de milhões de jovens a quem se pretende negar o futuro? De milhões de pais e mães incapazes de criar com dignidade os seus filhos? De milhões de trabalhadores a quem se estão a cortar salários e rasgar convenções, contratos e acordos, como se nada valessem?
Já o escrevi algures – um homem desesperado está disponível para tudo. Haja alguém que o lembre à Frau Merkel…
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