sexta-feira, 24 de julho de 2009

Independentes e "berloques"


A grande maioria dos Portugueses são aquilo a que chamo "independentes" em termos políticos. Isto é - por opção, não são militantes de qualquer partido e votam, em cada eleição, de acordo com a sua consciência (sendo esta já um resultado, em cada momento, de vivências, experiências, desejos, frustrações, etc, umas mais distintamente perceptíveis e outras mergulhando profundamente em complexos processos mentais que nos conduzem a determinada escolha).

Para mim, estes são os verdadeiros "independentes", em termos políticos.

Depois...há os outros.

Aqueles que hoje surgem a apoiar publicamente determinada formação política, por exemplo, por vezes chegam até a assumir alguns cargos de responsabilidade partidária e depois, passados escassos meses ou anos, aparecem de repente a fazer as mesmas declarações de apoio público a outros partidos, sendo que as mesmas andam quase sempre associadas ao facto desses partidos lhes terem reservado um qualquer lugar (elegível) nas listas para determinada eleição.

Normalmente estes "independentes" são figuras públicas, alguns por terem surgido na Comunicação Social a dar a cara por determinada causa, ou por serem actores, ou actrizes, ou cantores, ou escritores, empresários, etc. "Oferecem" normalmente o seu protagonismo junto da opinião pública em troca de um lugar garantido em eleição que valha a pena (nunca os verão nas listas de candidatos a uma Junta de Freguesia, por exemplo...).

Para além disso, têm a enorme vantagem de, não sendo militantes, não terem que fazer aquelas tarefas chatas reservadas aos militantes, desde gerir as secções, animar as mesmas, organizar reuniões, convocar militantes, participar em comícios (alguns destes "independentes" até passam por lá mas quando tal acontece normalmente estão no palco e nem se mexem ou gritam muito porque...são "independentes"...), entregar propaganda na rua, participar, enfim, na vida partidária e na sua gestão "corrente".

Eles estão no "andor" da procissão - os militantes que o carreguem.

Eles não se comprometem com nada, porque amanhã estarão a apoiar quem bem entenderem, ainda que nos antípodas - os militantes que se resignem.

Eles têm o "valor de troca" da sua visibilidade pública para oferecer no "mercado" da elaboração de listas e distribuição de lugares - os militantes são anónimos.

É por isso que proponho uma distinção a fazer. Que apenas se chamem "independentes" aos Portugueses que referi no início deste texto. Porque o são, verdadeiramente. A estes outros, que se passe a chamar-lhes "berloques". De Esquerda ou de Direita, pouco importa. "berloques" apenas. Um "berloque" é algo que se faz transportar, que se pendura num fio ou num pulseira, que é brilhante e vistoso, por vezes, mas que precisa de alguém que o leve de um lado para o outro pendurado, caso contrário jaz abandonado em cima da cómoda ou da mesa de cabeceira.

Resta uma questão tramada de equacionar - existirão partidos para oferecerem lugares aos "berloques" se os militantes (homens e mulheres que fizeram uma opção, que dão a cara, que trabalham e combatem por causas em que acreditam e que são tantas e tantas vezes ignorados apesar das suas capacidades e valor) quiserem passar a simples "independentes"?...

Ou outra pior - para que servem os partidos se ser "independente" é que é bom?...

...e haverá Democracia sem partidos?...

Para reflexão.

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